terça-feira, 29 de novembro de 2011

Primavera...

As flores desabrochavam
Quando chegava a primavera
Entrando um perfume suave
Pelas portas e janelas
Da casa de minha tia
Cercada de flores belas

Tinha belas margaridas
Lírio branco e jasmim
E também as margaridas
Saudade branca e jasmim
Lindos cravos amarelos
Era um belo jardim...

Fui rever aquilo tudo
Só encontrei solidão
Chorei muitas lágrimas
Aperto no coração
Da infância tão feliz...
Só resta recordação.

O meu tio vendeu tudo
Foi morar na capital
Lá a vida era outra
Pra seus filhos educar
Esqueceram o sítio flores
Só eu fui lá recordar.

Saudade...

A saudade bateu forte...
Saí para recordar
Fui à casa do meu avô
Mas, nada encontrei por lá
Só restava o baldame
E um beija-flor a voar...

Chorei bastante, sozinha
Vendo aquele beija-flor
No pé de mimo do céu
Que o tempo não acabou
Sugando aqui e ali
O néctar de uma flor...

Chorei bastante, chorei
Recordando o que passou
Os dias maravilhosos
Na casa do meu avô
Correndo por entre as roseiras
Para pegar o beija-flor...

Voltei para casa triste
Cheia de recordações
Do tempo da minha infância
Caí um pouco no chão
Levantei-me cambaleando
E fui até o portão...

Poção onde nos domingos
O banho era belo, lá
Meu avô José Maria
Nos ensinava a nadar
Nada mais pra mim existe
Pois tudo encerrou-se lá...

Adeus infância tão bela
Adolescência de riso e dor
Mocidade foi belíssima
Como um jardim em flor
Hoje só resta a velhice
Da minha filha o amor.

Eurídice Neves.

A Bica...

Convidei uma amiga
Para um banho tomar
Na bica do potengi
Naquele lindo lugar...

Fui nas belas oitiçicas
Só três existem por lá
As outras o rio levou
Ninguém sabe onde está...

As três que lá ainda estão
Belíssimas a balançar
Cheias de rosas amarelas
Botões à desabrochar...

Chorei copiosas lágrimas
Ao rever aquele lugar
Onde eu e minha avó
Costumáva-mos nos banhar...

Minha amiga me falou
- Eurídice, vamos voltar!
Estas copiosas lágrimas
Não fazem o passado voltar...

Vi em cada galho uma saudade
Em cada folha uma dor
Em cada pétala de rosa
O bailar do beija-flor.

Recordando...

Minha infância foi belíssima
Como um jardim em flor
Onde os tesourões bailavam
Serenos, cheios de amor
E as borboletas formosas
Roubavam o néctar da flor...

Eu era muito feliz
Bonita como uma flor
Corria por toda parte
Cheia de vida e vigor
Junto a Jacques meu irmão
Que era um amor...

Eu e Jacques meu irmão
Fazíamos e desfazia
Nossa infância era bela
Feita só de alegria
O nó que a gente dava
Ninguém o desmancharia...

Hoje ele está com Deus
Só a saudade ficou
Meu irmão muito adorado
Muita falta nos deixou
Descança em paz meu irmão
Na paz de nosso senhor...

Recordar o passado é viver outra vez.
                                                                      Eurídice Neves

São João...

Quando chega o mês de junho
É grande a recordação
Me dá aperto no peito
Procurando sempre em vão
Os dias da minha infância
Das noites de São João...

Era uma festa bonita
Que o meu avô fazia
Reunindo os amigos
E toda sua família
Para soltar os balões
Depois dançar a quadrilha...

A criançada brincava
De roda e cirandinha
Soltavam traque e mijão
E também as estrelinhas
Depois de tudo o jantar
Na mesa de vovô tinha...

Do casarão lá da festa
Hoje só resta o chão
O vazio, a dor cruel
A tristeza e solidão
As cruciantes saudades
Das noites de São João.

Lírios...

Me bateu hoje a saudade
Da casa de meu avô
Cercada de lírios brancos
Lírio roxo e outras flores...

As borboletas bailavam
Sobre os belos girassóis
Colibris e beija-flores
Brilhavam nos ráios de sol...

Eu cantava e corria
Para pegar borboletas
Que sugavam o néctar
Das mais lindas violetas...

Eu era a patativa
De meus tios e avós
Assim eles me chamavam
Por eu ter bonita vóz...

Adeus passado tão lindo
Casa grande onde eu brincava
Lírios brancos e outras flores
Meus avós que eu tanto amava.

Minha Mãe...

Mão sacrário dos afagos
Mãe sacrário do amor
Mãe como a brisa fogueira
De leve beijando a flor...

Eu andei por toda parte
Procurando encontrar
Lindas pedras preciosas
Para teu nome fermar

M - fiz com topázio
A - fiz com diamante
E - fiz com rubi
Til - somente brilhante

26 anos passaram-se
Que estás em outra dimensão
Um beijo só de saudade
Vão de mim e meus irmãos.

Eurídice.

Passado...

Acordei vendo o passado
Na casa do meu avô
Naquele terreiro belo
Todo coberto de flor...

Eram belíssimas roseiras
Todas cobertas de flores
Onde lindos colibris
Bailavam cheios de amores...

Vi minha avó já velhinha
Me abraçando a cantar
Meu avô lá no alpendre
Com meu pai à conversar...

Aquelas lindas roseiras
Que eram o meu amor
Hoje só resta o chão
O mais o tempo acabou...

Adeus infância tão bela
Que os anos tudo levou
Casa grande da fazenda
Aconchêgo do meu avô.

Mimo do Céu

83 anos passaram-se
Que a vida me marcou
Fui buscar meus 8 anos
Na casa do meu avô
Só o baldame encontrei
E um belo pé de flor.

Um pé de mimo do céu
Que o tempo não acabou
Cheio de rosas vermelhas
Onde bailam os beija-flores
Borboletas maravilhosas
Meu passado lá ficou...

Chorei de grandes saudades
Do tempo de minha infância
Colhendo com minhas primas
As flores belas do campo
Para nas noites de maio
Da mãe de Deus, virgem santa.

Hoje só restam lembranças
Saudades, recordações
Um vácuo, um vazio enorme
Uma imensa solidão
Uma dor, um sofrimento...
Angústia no Coração.

Pedra da Urtiga

Dei um vôo pelo passado
À um bonito lugar
Onde a saudade e a lembrança
Me pediram que fosse lá
Mas, nada eu encontrei
Que me fizesse alegrar...

Fui na pedra da urtiga
Onde um lindo beija-flor
Fazia todos os anos
O seu ninho de amor
Para seus belos filhotes
O seu sonho, seu calor...

Chorei, só a pedra e nada mais
Existe naquele lugar
Os anos destruíram tudo
Não vale a pena falar
Nem um beija-flor voando
Não existe mais por lá...

Eu pensei comigo mesma
- Vai pra casa, velha triste!
Este passado não volta.
Somente a dor existe
Saudades e grandes lembranças
É o que tens na velhice.